terça-feira, 1 de julho de 2008

A palavra é do Visitante

Participação: Laura Machado

Da prática para sala de aula – Entrevista com Paulo Araújo

Paulo Araújo é um dos responsáveis pela inclusão da cadeira de fotojornalismo nas faculdades de comunicação social brasileiras. Este profissional tem a fotografia no sangue, é filho do fotojornalista Paulo Moreira. Após mais de 30 anos de experiência e sucesso na mesma profissão do pai, teve fotos premiadas inclusive pela ONU. Paulinho, como é chamado pelos colegas da imprensa, retornou em 2005 para a sala de aula na Universidade Estácio de Sá, em busca de um diploma universitário de jornalista para conquistar seu sonho de ser professor e dividir o que aprendeu com os que desejam ingressar na área. O fotojornalista é casado, pai de três filhos, avô do Davi, e formado em Teologia. Conheça um pouco mais da vida acadêmica e da carreira deste profissional:

Laura MachadoComo surgiu seu interesse pela fotografia?
Paulo Araújo – Além do meu pai ser fotojornalista, minha mãe trabalhava com fotografia de eventos. Então, cresci vendo a magia desta profissão e ouvindo conversas sobre revelação, fotografias e outros temas ligados ao assunto. Quando tinha uns seis anos meu pai me levava nos finais de semana para o Diário de Notícias e eu participava das pautas. Mas gostava da área de saúde, tanto que fiz curso técnico em Patologia no Liceu de Artes e Ofícios. E até fui aprovado no vestibular para Medicina para Fundação Educacional Serra dos Órgãos (Feso) em Teresópolis, mas não pude cursar por falta de recursos financeiros.

LMSe tinha este interesse pela área de biomédica, como se tornou um fotojornalista? Seu pai, Paulo Moreira, o ajudou nesta escolha?
PA – Meu pai não queria que eu fizesse fotografia, pois achava uma carreira muito sacrificada. Quando tinha 15 anos, vendi minha prancha de surf e minha bicicleta para poder comprar minha primeira máquina escondido dele. Depois, em segredo, pedi um estágio para Rufino Borba, da Gazeta de Notícias. Fiz este estágio escondido do meu pai por uns dois anos. Quando o encontrava na rua, dizia apenas que estava acompanhando o Borba. Foi na Gazeta que tirei meu registro profissional.

LME como foi que finalmente seu pai descobriu que era seu colega de profissão?
PA – Meu pai já desconfiava que eu estivesse trabalhando na área, pois seus amigos comentavam sobre as minhas fotografias que tinham destaque. Mas logo depois que não pude ir cursar Medicina em Teresópolis consegui meu primeiro emprego com carteira assinada no jornal O Fluminense, em Niterói. Foi então que contei para meu pai que éramos colegas de profissão.

LMQual foi a sua primeira fotografia publicada na primeira página?
PA – Foi durante o estágio na Gazeta que consegui a primeira. A foto foi de um dublê de Roberto Carlos que tinha se suicidado pulando de um prédio no Centro. Vibrei muito ao ver a minha foto com tanto destaque.

LMConte sobre suas lutas pela melhoria da categoria.
PA – Quando trabalhava no Fluminense, percebi a injustiça, pois os jornalistas do estado do Rio de Janeiro recebiam bem menos que os da capital. Briguei muito pela unificação dos sindicatos da capital com o do estado do Rio de Janeiro. Nesta época, Alberto Torres, dono do Fluminense, mandou me demitir.

LMDepois desta demissão, o que fez para continuar trabalhando na área? Continuou lutando pela classe?
PA – Comecei a participar de vários congressos de Comunicação. Junto com os amigos fotojornalistas João Roberto Ripper, na época do Globo, e Dr. Hugo de Góes, que também era advogado, queríamos a implantação da cadeira de fotojornalismo nas faculdades de jornalismo. Após muitas discussões conseguimos esta conquista no congresso realizado em Belo Horizonte, em 1982. Nesta época fiz muitos trabalhos como free lancer. Fui convidado para fazer fotografias para O Globo, Jornal do Brasil, Contigo e vários outros veículos.

LMEsta sua postura de luta pela inclusão da cadeira de fotojornalismo demonstra sua preocupação com a formação acadêmica. Conte um pouco sobre a sua.
PA – Em 83 ou 84 fiz vestibular para Jornalismo na Gama Filho. Porém, comecei a trabalhar no jornal O Dia cobrindo as folgas, sem um horário fixo. E ficou muito complicado conciliar os estudos com a faculdade. Aos trancos, consegui completar até o 4º período antes de trancar a matrícula. Lecionei por um tempo como leigo na Igreja Baptista Peniel, na Tijuca. Então em 1990, ingressei no curso de Teologia do Seminário Teológico Evangélico Peniel. Em 1994 me formei bacharel em Teologia.

LMPor que decidiu voltar para vida acadêmica e cursar Jornalismo na Estácio de Sá?
PA - Para terminar este projeto de concluir o curso de Comunicação que está inacabado na minha vida. E, se tiver oportunidade, gostaria muito de ser professor para compartilhar minhas experiências.

LMQual a maior dificuldade que tem encontrado neste retorno a sala de aula?
PA – A falta de tempo para me dedicar mais aos estudos.

LMComo já tem 30 anos de experiência prática no fotojornalismo, o que tem achado das disciplinas que cursa na faculdade?
PA – Tenho gostado muito da parte teórica como, por exemplo, comunicação comunitária, pois estou tendo a oportunidade de ter uma nova visão da Comunicação. Também gostei da matéria estética e comunicação de massa.

LMSe pudesse escolher as editorias para trabalhar, qual seria a que gostaria mais de fazer e a que não faria?
PA – Gosto muito da editoria de política pela possibilidade de fazer uma crônica com os políticos. Por exemplo, o que fiz naquela fotografia da Lílian Ramos sem calcinha ao lado do então presidente Itamar Franco durante o carnaval. Não gosto da editoria de cidade, especialmente de pautas como buraco, lixo, obras de Metrô etc.

LMQual a fotografia que teve que fazer, mas que gostaria de não ter feito?
PA – Foi a do Cazuza com Aids para uma capa da Contigo me senti mal fazendo aquela fotografia porque explorava muito a imagem doente dele para vender revistas.

LM - Quais são as dificuldades e as facilidades da vida do fotojornalista?
PA – Dificuldades são muitas, como o perigo, o risco de morte no trabalho. Temos que subir morro com tiroteio, viver sempre com muita pressa, pois tudo é para ontem. Facilidades a princípio não vejo nenhuma vantagem nesta profissão, estamos sempre trabalhando. Talvez seja uma facilidade poder transitar pelos mais diferentes ambientes, por exemplo, de manhã estar com traficantes e no mesmo dia mais tarde com o presidente da república.

LMQuais são as tristezas e alegrias de um fotojornalista?
PA – Tristezas são em média de 10 a 12 horas por dia de trabalho, sem uma rotina certa com hora para entrar e para sair ou hora para almoçar. E nem todos os dias têm uma fotografia minha no jornal. Outra tristeza é o salário baixo, o mercado está saturado e isso é desanimador. Alegria nesta profissão é poder ver que o fruto do seu trabalho pode ajudar uma pessoa. Por exemplo, fotos denunciando o abandono de um hospital podem alertar as autoridades a melhorar o atendimento e beneficiar a vida da população.

LMO que faz o profissional se tornar um bom fotojornalista?
PA – Ter experiência, saber editar bem e ter um olhar peculiar para não perder o “click” que fará a diferença.

LMUma mensagem para quem quer ser fotojornalista.
PA – Na faculdade, tenho visto que os alunos não se aplicam aos estudos, vejo muita gente brincando em sala de aula. A briga no mercado é matando um leão a cada dia. Por isso, quem quer seguir a profissão tem que se preparar. Visitar exposições, assistir filmes e ler. O mercado não tem espaço, mas a pessoa sempre pode criar oportunidades. Quando se quer algo, tem que se querer muito.




Laura Machado é formada em direito pela UFRJ e, atualmente, estuda jornalismo na Universidade Estácio de Sá.

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