terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Palavra é do Visitante

Participação: Thiago Nunes

Não gosto de política

Não gosto de política. Meu conhecimento sobre o assunto é limitado. Não estou engajado em nenhum movimento estudantil revolucionário tampouco discuto por tais razões. Escolho por afeição, simpatia ou interesse comum. E talvez isso seja o motivo de tanto caos social.

Confesso que meu interesse pelo assunto diminuía gradativamente até há pouco, juntamente com minha paciência. Isso se dá não pela aparente intolerância em relação à escolha alheia, mas sim pelos motivos, até então, peculiares que pesam para tal decisão.

Há tempos vejo uma inversão de valores no âmbito político. Fatos, situações e declarações passam do escandaloso e vexatório para o cômico. Vivemos numa espécie de sociedade-espetáculo, onde o panoptismo e sua intenção coercitiva perdem sua característica – “SORRIA, você está sendo filmado” é a coisa mais sem nexo que já vi! – e alimentam a cultura da procura incessante de quinze minutos de fama.

O que me impressiona não são – somente – episódios como a dança desalinhada e “disrítmica” daquela distinta senhora em ambiente público ou absolvições descabidas e engavetamentos de processos, mas sim a ausência de limites e tamanho da criatividade dos senadores, deputados e afins lá presentes. Sem muito me esforçar, lembro-me dos inúmeros personagens no horário eleitoral, portando chapéus extravagantes, animais, instrumentos musicais, fantasias e 354 crianças num coro não-ensaiado do número da legenda do candidato. O apogeu da insanidade se resume em um “show” de uma drag queen na Assembléia em São Paulo, em defesa de algo que merecia algo mais sério e sensato.

Bom senso e ideologia estão ultrapassados pela sede insaciável por um lugar ao sol nas ricas e - sabe-se lá como – inesgotáveis fontes de dinheiro público. Infidelidade partidária é algo corriqueiro. As denominadas ‘personalidades’ do ambiente do entretenimento se aventuram sem passado político e/ou idéias sensatas e viáveis. E o fenômeno abre portas para que anônimos como o ‘Fulano da Padaria’, a ‘Tia Beltrana’ e ‘Sicrano do Bar’ tentem a mesma coisa, ainda que seja só pelos poucos minutos de ‘fama’, com frases de efeito medíocres, dicção esquisita ou jingles de qualidade duvidosa.

Não há como saber até quando essas particularidades irão durar. Talvez quando meus concidadãos perceberem que voto é mais que uma obrigação cívica em um domingo apático. Ou até mesmo quando os que já estão no poder mostrarem que há como mudar a situação caótica no trio saúde, segurança e educação. Quem sabe ainda seja preciso viver episódios como 1968, geração cara-pintada ou coisa do gênero. Algo que mostre que o voto não é indolor e gratuito como imaginam tampouco instrumento de escambo por obras, cestas básicas ou asfalto na rua. A realidade sempre terá de ser catastrófica e apocalíptica e o futuro, utópico? Entre tudo isso, ainda fico com a metade cheia do copo!

Até que gosto de política.









Thiago Nunes é estudante de Jornalismo do 6º período na Universidade Estácio de Sá.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Quem sabe ainda seja preciso viver algo que mostre que o voto não é indolor e gratuito como imaginam tampouco instrumento de escambo por obras, cestas básicas ou asfalto na rua."

Como tudo na pós-modernidade, a política virou comércio, mediocrizou-se. A palavra "política" se resumiu em partidos, campanhas eleitorais incovenientes no horário nobre da telinha, candidatos ansiosos pela visibilidade midiática e famílias lançando a prole com medo de perder a fatia da pizza.
O real e mais fascinante sentido de Política, ficou no passado... e um passado remoto.

Beijos,
Nandinha.

Anônimo disse...

Acredito que política envolva realmente muito mais que simples e mal feitas propagandas de quatro em quatro anos. Os quinze minutos de fama desses cidadãos não vão me convencer a fornecer meu voto. Política, pra mim, são atitudes diárias, de convivência correta entre as pessoas e entre estas e suas cidades, bairros, estados e países. Política deveria servir pra organizar e não confundir, enganar, banalizar.
Muito bom o texto, Thiago!
Abs, Fernando!